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Oscar desembarcou no Brasil há 36 anos. Foi parar no Posto 5, no Rio de Janeiro. Passou um mês e meio lá, só observando os dois filhos saindo e chegando da praia. Foi passar férias e decidiu ali, que nunca mais voltaria. “Foi melhor assim. O [General Augusto]  Pinochet não gostava de mim”, explicou em um simpático portunhol. 
A vida era boa no Rio de Janeiro. A cidade era alegre e os filhos logo ficaram bronzeados e felizes. Só que faltava dinheiro. Ele até arrumou emprego em uma fábrica, mas o salário era baixo demais.  Então, Oscar decidiu vir para São Paulo e comprar um taxi. “Chamaram-me de louco. Não falava português e não conhecia a cidade. O que faria com um taxi?”. Rodando e aprendendo, foi o que ele fez.

Ao Chile ele só voltou depois de muitos anos. Queria apresentar seu país aos netos brasileiros. A menina ele levou para o Norte, para Vicuña, onde viveu Gabriela Mistral. Fez questão de apresentar à neta a professora da zona rural que se tornou a maior poetisa chilena. A ela também foi concedido o primeiro Prêmio Nobel de Literatura a um escritor sul-americano, em 1945. “Minha neta, pequenina, não acreditava que aquela era mesmo a casa de Gabriela. Como ela podia dormir em uma cama tão dura?”.  Oscar deixa-se facilmente levar pelas lembranças e, sem perceber, começa a recitar os versos escritos pela conterrânea. “Não é lindo? Uma professora primária!”.

Aos 73 anos, não esconde também o orgulho do outro escritor chileno premiado – Pablo Neruda. Diz que ele é mais conhecido no Brasil. Já até levou uma senhora que revelou ter se decepcionado profundamente com Neruda. “Ela não sabia que ele era tão mulherengo”.

Oscar esteve há pouco tempo em seu país. Reconhece que a situação lá é outra: economia estabilizada, menos violência. “Ninguém mata para roubar”.  Ainda assim, nem passou pela sua cabeça ficar. Parafraseando Gertrude Stein, o Chile é seu país, mas é em São Paulo o seu lugar. “Já sou paulistano”.