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Maria Firmina era maranhense, bastarda e negra. Foi também a primeira brasileira a publicar um romance no Brasil. Balduína era carioca e pequenina, mas sua voz poderosa correu o mundo e encantou a gregos e troianos. Josephine nasceu em Paris, cresceu no Rio de Janeiro e, durante cinco décadas, foi a única mulher membro da Academia Nacional de Medicina. Essas são somente algumas heroínas, de carne e osso, resgatadas pela psicóloga Maria Cristina Balieiro.

As histórias estão sendo compiladas no blog O Feminino e o Sagrado e renovam a história do nosso país. “A gente desconhece ou conhece muito pouco a história de mulheres incríveis que nos precederam. Queria, então, que as meninas e mulheres pudessem ter também modelos de heroísmo baseados em mulheres reais”.

 Os retratos ressaltam artistas, cientistas, professoras, ativistas, arquitetas, escritoras, médicas, atletas, cantoras, políticas, pedagogas, aviadoras e até soldadas. “Essas mulheres tão bacanas viveram aventuras de todos os tipos. Foram corajosas. Mas também tiveram medo e choraram muitas vezes. Ficaram muito felizes e, às vezes também bem tristes. Algumas vezes ganharam, outras perderam. Elas eram perfeitas? Claro que não: foram humanas, como todas e todos nós. Mas, com suas imperfeições e erros, com medo e enfrentando dificuldades, sempre foram valentes, pois não desistiram de lutar por aquilo que acreditavam”.

 A missão de Cristina para honrar essas pioneiras e salvá-las do esquecimento começou em março de 2010, quando lançou, ao lado de Beatriz Del Picchia, o livro O Feminino e O Sagrado – Mulheres na Jornada do Herói. A obra da Editora Ágora relata histórias de vida de 15 brasileiras contemporâneas que, em busca da própria identidade, encontraram uma dimensão sagrada da vida. A palavra sagrado não é empregada no sentido religioso; faz referência àquilo que proporciona transcendência e significado à vida.

Vieram, então, o blog e mais dois livros: Mulheres na Jornada do Herói: pequeno guia de viagem e Legado das Deusas – Caminhos para a busca de uma nova identidade feminina. Para Cristina, resgatar o Sagrado Feminino significa adicionar “mais equilíbrio a nosso mundo tão unilateralmente doente”.

 Descobrir e se descobrir

 A descoberta das heroínas é feita a partir da “bíblia” Dicionário de Mulheres do Brasil e de muita pesquisa. “Fui desenhando as mulheres e escrevendo suas histórias com o tempo. Hoje tenho 30 mulheres desenhadas e 18 histórias escritas. Tenho ainda uma lista de pelo menos mais 30 mulheres de quem gostaria de contar a história e de desenhá-las”.

 Ao compartilhar suas descobertas, Cristina também convida os leitores a resgatar as suas raízes. “Acho que, apesar dos muitos obstáculos, existiram muitas mulheres no passado que também foram bem valentes, viveram acontecimentos especiais e fizeram diferença para outras pessoas. Mas a gente acaba não sabendo das suas histórias. Pode ter até acontecido isso com sua avó, sua bisavó ou sua tataravó! Que tal você buscar conhecer as histórias delas?”.