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"paulistanos anônimos"

[Paulistanos Anônimos] Destino de Djavan

(Autor desconhecido)

“Desculpe, mas eu precisava muito falar com alguém”, disse a moça no saguão de um centro cultural. Quando eu me sentei ao seu lado, à espera de uma amiga, nada chamou minha atenção. Seu rosto estava escondido pelo cabelo liso tão longo quanto suas pernas e braços. Em nenhum momento, ela demonstrou notar a minha existência. Até aquele momento.

“Oi?”

Foi tudo que consegui emitir ao ser pega tão desprevenida por aquele pedido. Ela me fitou com hostilidade.

“Você precisa de algo?”, questionei, já me perguntando se tinha ouvido vozes (longe de mim duvidar de eventos sobrenaturais, ainda mais diante deste calor extremo). A hostilidade no rosto dela virou indignação. Como eu não tinha percebido que ela estava em uma ligação? Como eu poderia imaginar que, debaixo daquela cabeleira platinada, havia dois fones sem fio? Quem é que inventou isso e tornou nossa vida ainda mais difícil?

Amiga, você não sabe…”, disse, “acabou. Acabou. A-C-A-B-O-U.

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[Paulistanos Anônimos] Devaneios Literários

Foto do Pinterest / Autor desconhecido

Não foi resolução de Ano Novo, mas uma decisão de mudar a sintonia. Se não dá para sair de casa sem celular, é possível deixá-lo bem escondido na bolsa para observar o mundo além das telas. Não é difícil perceber que sou uma exceção. Nas ruas há cada vez mais pessoas olhando para a palma da mão ou absortas da realidade com os seus fones de ouvido, completamente desconectadas do entorno. Engajam-se em conversas com interlocutores distantes, escutam músicas e leem histórias, sem perceber os personagens, a trilha e a narrativa do lugar onde vivem ou por onde passam.

 Ou não.

Aquele jovem cabeludo e tatuado nem imagina que, ao ingressar na estação da linha amarela, ajudou a derrubar algumas crenças – a começar pelo livro de, pelo menos, 600 páginas, carregado como se fosse um pequeno haltere. Não dizem que as novas gerações não leem? Aquele calhamaço era 100% analógico. Aposto que tinha letra pequena e nenhuma outra ilustração além daquela na capa. Não consegui identificar o título, mas dava para sentir o cheiro de sangue talhado na espada reluzente do herói.

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[Paulistanos Anônimos] Senhor do destino

Chegou como qualquer outro passageiro, somente em busca de seu assento. Não demorou muito para sacar da sacola uma revista e uma lupa. Escorregou seus olhos por cada palavra, sem pressa ou vergonha. Saciou sua fome de conhecimento ao espremer cada sílaba cuidadosamente.

Ninguém mais parece ter percebido a cena – tampouco a moça, que se sentou ao seu lado por um tempo. Ele, com certeza, nem se deu conta de outro ser vivo ao seu redor, pois não desviou o seu olhar por um minuto sequer. Estava completamente entregue ao momento, hipnotizado pelo alimento à sua frente.

Era o senhor do próprio destino, incólume à ansiedade do mundo atual, comprometido exclusivamente com nada além do seu tempo.

 

[Paulistanos Anônimos] Além dos olhos

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Para ter valor, uma joia não precisa de uma caixinha turquesa com fita branca

Em meio à agitação da Avenida Paulista durante um domingo de sol, uma joia rara foi adquirida por um comprador com gosto refinado, olhar preciso e mãos delicadas. O item, criado há muitos séculos em algum canto da Alemanha, era único, o que deixou outro cliente frustrado pela oportunidade perdida.  Continuar lendo “[Paulistanos Anônimos] Além dos olhos”

[Paulistanos Anônimos] Paixão não se discute

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Foto ilustrativa
No dia do jogo da seleção brasileira de futebol em São Paulo, o trânsito só não ferveu mais que os ingressos da partida. Mesmo custando entre R$126 e R$650, não sobrou um. “Sabe o que eu acho, moça”, disse o taxista, sem desviar os olhos do tráfego. “Paixão não se discute. Quando a gente gosta, paga o preço que for. Não tem crise que segure”. Você já deve imaginar que esse senhor, com ralos cabelos brancos, advoga em causa própria. E não é pelo futebol, não. Com uma risada tímida e uma espiadinha pelo retrovisor, ele revela o verdadeiro objeto do seu afeto: uma horta.   Leia Mais

[Paulistanos Anônimos] A pessoa da baia ao lado

Eles dividiam o mesmo espaço, mas viviam em universos distintos. Ele era de um departamento e só falava com a rapaziada, que era completamente ignorada por ela, que vivia em outro mundo e preferia outros papos, com outras pessoas. O território de um começava onde acabava a mesa do outro. Parecia que um muro invisível havia sido erguido. Sentavam-se lado a lado, mas nunca se comunicavam. Não trocavam um bom dia, um com licença, nem um até logoLeia Mais

[Paulistanos Anônimos] A Doce Vida Paulistana

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Em uma abafada tarde de primavera, São Paulo tornou-se cenário de um filme de Fellini. A personagem central era uma italiana de Gênova, de pele clara e brilhantes olhos azuis. Com mais de 80 anos, ela estava toda arrumada e perfumada para o almoço que teria na casa de amigos.  Desceu do táxi antes da hora e se perdeu em um quarteirão tombado do Itaim Bibi.  Leia Mais

[Paulistanos Anônimos] Da vida de tailleur e salto alto para a de tênis e camiseta

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Foi uma conversa de um quarteirão entre desconhecidas. Poucos minutos de Perguntas & Respostas, mais de um lado que do outro, o suficiente, porém, para definir o caráter, também mais de um lado que do outro.  Leia Mais

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